A entrevista de hoje é com a atriz e diretora Susana Ribeiro e o ator Marcelo Valle, ambos da consagrada Cia. dos Atores, uma das três companhias de teatro residentes da Sede das Cias. Eles vão ministrar oficinas de teatro aqui e é sobre isso, entre outras coisas, que vamos conversar.
Dia 22 de junho começa a oficina "Transposição e construção da cena a partir do livro Por que Almocei meu Pai, de Roy Lewis" que a Susana Ribeiro ministrará junto com o ator Orã Figueiredo. E é com ela que a gente começa esse bate papo.
Laura Limp: Oi Susana, tudo bom? Conta pra gente de onde surgiu a ideia desta oficina e desta parceria com o Orã.
Susana Ribeiro: Oi Laura, tudo bem? Obrigada pela oportunidade de falar um pouco sobre a oficina que vamos dar. Essa idéia surgiu de um encontro que tive com Orã e Camila Amado, há uns dois anos. E neste encontro tocamos em temas que nos interessavam. Desses temas surgiram alguns textos e entre eles, o livro "Por que almocei meu pai” que o Orã trouxe. Eu li e adorei. E fiquei com ele na cabeça por um tempo. Depois resolvi retomar o assunto e convidar o Orã pra essa investigação.
LL: Como vai funcionar a oficina? Sabemos (já pelo título) que o trabalho é todo a partir do livro, que aliás, é leitura obrigatória antes de começar o curso. Fale um pouco sobre o livro e o por quê da escolha dele.
SR: A escolha veio de ter me encantado com o universo que o livro descreve e com o tom escolhido pelo autor pra contar aquela história. Vi ali conhecimento científico e antropológico de uma forma leve, engraçada e afetuosa. Achei que dava muito material pra o jogo teatral.
LL: Vocês tem um método de trabalho pré concebido ou vão descobrir o caminho a seguir de acordo com a turma que se formar?
SR: Acho que temos um ponto de partida que já norteia bastante nossa investigação, mas não sabemos no que isso vai dar. A idéia da oficina é justamente descobrir um possível caminho a partir do que a turma trouxer e produzir durante os encontros.
LL: A oficina é voltada para atores profissionais, dramaturgos e interessados no desafio da transposição da literatura para a cena. É bem amplo. O que vocês pretendem com a oficina? É pesquisa para algum futuro trabalho?
SR: A ideia é discutir dramaturgia a partir da prática. Desenvolver uma escritura cênica com os atores através de exercícios de improvisação e composição, tendo como base o texto do livro, e registrar o que surgir dessas experiências. Não queremos nos comprometer com um resultado ou uma finalidade. A idéia por enquanto é só investigar mesmo, livremente, e levantar as possibilidades.
LL: Quais os seus planos profissionais para 2015?
SR: Estou sendo convidada para dirigir, o que me deixa muito feliz. Tenho vontade de me desenvolver mais nessa função, que dentro da minha trajetória profissional ainda é uma prática bastante recente. Como atriz tenho projetos em teatro e cinema, mas nada que eu possa nomear agora. Estamos no momento anterior de criação e captação. Bico calado, dedinhos cruzados!
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Susana Ribeiro e Bel Gracia recebendo o Prêmio Cesgranrio
de melhor direção por "Conselho de Classe |
LL: Pra quem não sabe, a Susana Ribeiro dirigiu junto com a Bel Garcia o premiadíssimo espetáculo da companhia chamado CONSELHO DE CLASSE que, entre outros prêmios, levou o de melhor direção tanto no Prêmio APTR quanto no CESGRANRIO. O espetáculo continua em cartaz? Existem outros projetos da companhia em que você esteja envolvida no momento?
SR: Sim, Conselho de Classe ainda está de pé. O espetáculo tem bastante fôlego ainda. Estará se apresentando em Goiânia neste final de mês e esperamos voltar à São Paulo para uma nova temporada, assim como circular por este Brasil afora. A Cia dos Atores também está captando recursos para a digitalização do nosso acervo e estamos iniciando conversas e encontros para falarmos de nossos desejos artísticos. É um momento de estudo, de troca, que tá sendo muito bom.
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Foto de divulgação do espetáculo Conselho de Classe |
LL: Como é o seu processo particular de trabalho, como atriz? E como diretora? Tem diferença ou é complementar?
SR: Depende do trabalho, mas em comum entre eles é a minha tentativa de construir a partir das relações. Nesse sentido ser atriz ou diretora não faz muita diferença, já que o que estou tentando fazer o tempo todo é relacionar, pra produzir através dessas relações, a cena.
LL: Como é isso de dividir a direção?
SR: Muito bom. Já vivi essa experiência quatro vezes: com a Cristina Moura, com o Paulo José, com o Cesar Augusto e com a Bel Garcia. Quando tenho uma boa interlocução me enriqueço e a pressão é dividida, o que me ajuda bastante a criar em paz. Obviamente que essa parceria tem que rolar, senão é melhor fazer sozinho. Rs
LL: Se você pudesse dizer apenas uma coisa pra quem está começando a estudar teatro, o quê seria?
SR: Escute, se relacione, se apaixone e se deixe levar. Quanto menos você resistir, mais vai encontrar!
Laura Limp: Oi Marcelo, tudo bom? Vamos lá! A sua Oficina de Treinamento de Ator começa no dia 10 de agosto na Sede. Ela é voltada para atores iniciantes e profissionais? Qual o objetivo da oficina?
Marcelo Valle: Oi Laura, tudo bem? Na verdade, minha oficina é voltada para atores profissionais, ou, no mínimo, que estejam adiantados em alguma escola de formação. O objetivo da oficina é treinamento. Eu venho de uma temporada de estudos de técnicas de atuação em Madrid e quero trocar experiências com os atores. No futuro, pretendo ter um grupo fixo, em que eu possa aprofundar essa investigação e chegar a cena propriamente dita.
LL: Alguns pontos de foco do trabalho são o relaxamento, imaginação, presença, disponibilidade e critério. Por que esses pontos específicos? Como você vai trabalhar com os alunos? Qual seu método de trabalho?
MV: Cada um desses pontos, e ainda muitos outros, serão foco da oficina. Em duas semanas eu não consigo me aprofundar nos conceitos, mas pretendo dar uma boa pincelada e através de muitos exercícios, para que o ator possa começar a ter um arsenal de ferramentas que o ajude a atuar.
Bem, relaxamento é o fundamental, é o início de tudo, pois tenso nada que venha do ator pode ser desfrutado, nem por ele, nem pelo público. Depois, os outros conceitos fazem parte do alfabeto da linguagem cênica, no que tange o trabalho do ator. A oficina é de técnica, treinamos a técnica para ajudar na cena, principalmente quando não estamos inspirados. Existe uma ideia de que o ator depende de inspiração para fazer um bom trabalho. Na verdade, como trabalhamos com arte, a inspiração é realmente muito bem vinda e faz muita diferença, mas o domínio da técnica nos ajuda a atrair inspiração.
LL: O que o ator precisa para trabalhar com mais liberdade e criatividade?
MV: Confiança e critério, para fazer as escolhas certas. Ou seja, Técnica! (risos)
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Foto de divulgação do monólogo LABORATORIAL |
LL: Faz pouco tempo, você fez um monólogo, na comemoração de 25 anos da companhia, chamado LABORATORIAL. Fale um pouco sobre o espetáculo e sobre o seu processo de trabalho como ator.
MV: Esse foi um processo ímpar, pois a dramaturgia flertava com a performance e com as artes plásticas, então, foi um grande experimento. Provavelmente eu, Cesar, Diogo e Simon (os criadores) vamos nos reunir em algum momento numa sala de ensaio, para continuar a pesquisa relacionada ao trabalho. Esse trabalho desenvolvido em Laboratorial tem, não como resultado, mas principalmente como processo, muito em comum com o que vou tratar na oficina, pois se trata de um trabalho bastante autoral. Na oficina, vamos olhar muito pra essa questão da personalidade do trabalho do ator, ou seja, tornar o ator único, com opções absolutamente pessoais.
LL: Na sua opinião, porque tão poucos atores se arriscam em um monólogo? O quê é que assusta tanto? O que é importante ter em foco?
MV: Não é fácil fazer monólogo, não ter o outro ator ao lado é árduo, mas eu acho que todos os atores deveriam passar por essa experiência, pois há um crescimento muito grande dentro desse tipo de trabalho. Você precisa estar ligado ao todo, ter capacidade de se superar se for necessário. Acho que o que é importante é ser autoral, é querer falar verdadeiramente sobre o assunto tratado. Isso faz a diferença e novamente esbarramos na questão da pessoalidade no trabalho do ator.
LL: Algum novo projeto em vista com a companhia? Quais seus planos profissionais para 2015?
MV: Sim, temos projetos juntos, que giram em torno da Sede. Desde que a sede da Cia dos Atores se transformou na Sede das Cias, nós nos afastamos um pouco da casa, a fim de tomar um fôlego e dar liberdade pros Dezequilibrados e Pangéia poderem desenvolver seu trabalho ali, pra que eles se sentissem em casa. Isso já aconteceu, agora vamos ocupar um pouco o espaço junto com eles. Queremos desenvolver o nosso site, dar oficinas e fazer uma mostra de cenas, com pesquisas e debates.
LL: Você atualmente interpreta o Wilson, tanto na série O PASSADO ME CONDENA quanto no filme. Quais as principais diferenças entre a atuação na tv, cinema e teatro pra você. E o que mais te atrai?
A essência é a mesma. Claro, como a mídia é completamente diferente, a forma de fazer é distinta também. A principal diferença já se sabe: A TV tem um ritmo frenético, o cinema, uma subjetividade e o teatro conserva o processo de experimentação e pesquisa. Muito bom é que ultimamente, a TV e o cinema têm se valido de processos mais representativos.
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Cia dos Atores |
LL: Como vocês conciliam a companhia e seus trabalhos fora dela, projetos pessoais, cursos e ainda os trabalhos na TV?
MV: A Cia dos Atores vai fazer 30 anos juntos. Acho que só conseguimos trabalhar tanto tempo juntos pela admiração que temos um pelo outro e pela liberdade que temos de trabalhar fora da Cia. O trabalho em companhia é uma opção e não a falta dela. Então, conciliar fica mais fácil, quando parte do desejo. Agora, às vezes, não conseguimos fazer um trabalho que gostaríamos muito, mas assim é a vida, ganhamos e perdemos a todo instante.
LL: E você, se pudesse dizer apenas uma coisa pra quem está começando a estudar teatro, o quê seria?
MV: Comece seus estudos com critério. Faça as eleições certas, de escola principalmente. E se dedique a estudar de verdade, sempre atento ao seu próprio processo. Da mesma forma como atualmente se demanda um envolvimento pessoal, muito particular do ator ao atuar um personagem, por isso mesmo, cada ator descobre o seu processo, que é distinto. Cada um terá, por exemplo, uma gama de exercícios e práticas que o colocará em estado para atuar. A cada dia será diferente, pois a cada dia o ator está diferente. Consciência que existe técnica para apoiar o talento e sustentar a vocação.
Bom, a conversa fica por aqui. Mas quem quiser saber mais e aprender com esses dois que tem MUITO a ensinar, já sabe... Corre e se inscreve nas oficinas!
Amanhã começa a da Susana Ribeiro com o Orã Figueiredo. Não perca tempo!
Saiba mais aqui no evento: http://on.fb.me/1GgKhiG
Pra saber sobre a oficina do Marcelo Valle, acesse: http://on.fb.me/1LdVINR
BOM DOMINGO!