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sexta-feira, 6 de março de 2015

VIVER PREPARA SEU CORPO PARA VIVER

Diana Behrens, integrante da Pageia cia.deteatro, fala sobre sua oficina na Sede das Cias





Tenho pesquisado a relação entre corpo e felicidade e vivenciei uma mudança radical na minha qualidade de vida depois que aprendi a relaxar meus músculos de forma profunda. Este relaxamento só foi possível através da ação e expressão de sentimentos. Massagens, cremes e remédios ajudam, mas são paleativos. Nossos condicionamentos e posturas fazem com que rapidamente eles voltem a se tensionar. A verdade é que expressamos muito pouco nossas emoções a ponto de nem perceber o quanto reprimimos nossos impulsos. Vamos nos desconectando do nosso corpo, que é a vida em si! É o que temos de certeza. É o estar aqui.  

Mesmo sem saber, eu sempre estive pesquisando o corpo. Pesquisando, porque eu precisava entender com ele funcionava para fazer o que eu queria. O que eu queria dependia de boa execução, busca de equilibrio e prática: pirueta, o galho mais alto, salto mortal, parada de mão... Fiz ginástica olímpica por muitos anos e 17 anos de balé clássico. Fazia obsessivamente até, e lidar com muita dor física era perfeitamente natural. Descobri o que é um corpo sem dor há pouco tempo. Meu corpo doía não só pelas dores do esforço muscular mas por emoções reprimidas.

Expressamos nossas emoções através do corpo, não há outro modo. E o fato de sentir emoções, é incontrolável. Quando você, vê a emoção já existe. Já a nossa mente é lenta. A nossa mente é um softward. Ela consegue registrar algumas coisas, armazenar, fazer links e tal, mas ela não consegue dar conta do fluxo emocional e de memória. Por isso sonhamos, e por isso o ser humano tem uma necessidade de dormir. Dormimos para fazer download, concluiu-se de pesquisas sobre o funcionamento eletromagnético no cérebro.

O que acontece no nosso dia-a-dia é que precisamos usar a mente a maior parte do tempo. Pra fazer coisas, cumprir a agenda,as expectativas, o trabalho, e a gente superutiliza esse "sistema". Quando ele fica super carregado, tenta fazer com que diminua o fluxo de informações com os quais ele tem que lidar.

Isso é feito por um mecanismo biológico: inconscientemente diminuímos drásticamente a profundidade da respiração e o volume de ar que inspiramos. Ficamos no stand by, agimos menos e assim a mente acredita que terá que lidar com menos coisas. Porque, se você respira intensamente, seu coração vai bater mais forte, você vai sentir raiva, dor, tesão e alegria um tanto mais latentes. Nosso corpo é cheio de possibilidades de alegria e sensações indescritiveis.

Quanto mais se respira mais se sente. São inúmeras as técnicas, terapias, coachs, etc que focam na respiração, diversos tipos de yoga, psicocalestenia, bioenergética, terapia Reichiana e por ai vai. Já tive contato com muitas delas na minha pesquisa. E com certeza você escuta de qualquer treinador "respira!", porque sim, o que fazemos em situação de aperto ou dor é travar a respiração.

A nossa parte do cérebro que lida com as emoções é herança dos mamíferos e sua tática de sobrevivência em grande maioria é: se fingir de morto, congelar. O fato de respirar pouco faz com que não tenhamos força para expressar as nossas emoções, principalmente por temer a reação do outro, ou a intensidade dos nossos próprios sentimentos.(mesmo que esse medo esteja escondido por uma indiferença `a questão.) E o fato de expressar pouco as emoções faz com que seja difícil respirar profundamente pois os músculos vão formando uma couraça de tensão.

O trabalho como atriz me mostrou que ao reproduzir um corpo e sons de determinada emoção é possível atingir essa emoção.  O diferencial é que na atuação esse afloramento emocional deve ser consciente.  A consciência também é uma evidência da conexão corpo-mente, porém de uma forma relaxada, acredito eu.

Temos dificuldade de relaxar porque nosso corpo vai acumulando essas emoções que não foram expressadas. Isso porque os músculos tiveram que se contrair para, literalmente, "segurar" essas emoções. Por exemplo quando você quer gritar e não o faz os musculos do pescoço e diafragma se contraem e se mantêm tensionados até que esse grito seja liberado. Essa tensão acumulada pode causar vários problemas físicos como ulcera e dores de cabeça e deve ser o maior responsável pelas rugas, inclusive. Não adianta passar creme com sêmem de baleia. Se você passa muito tempo malhando a testa ao franzi-la, provavelmente ela contará essa história. Os corpos contam história.

"Essa é a parte bonita da coisa: a vida existe mesmo é no corpo."

Na história do meu corpo, eu tenho o privilégio e a escolha de trabalhar em cias de teatro. Através da Pangeia cia.deteatro, vivo a oportunidade de usufriur da ocupação Sede das Cias. E com ela  liberdade quanto às propostas artísticas. Lá  temos amplidão e aconchego para experimentar novos formatos, e é isso que temos feito. A ocupação nos permitiu aprofundar na pesquisa de:  como criar em conjunto, como criar com o público. Esse desejo nos ronda faz tempo, talvez impulsionados pelo curso da Judith Malina (Living Theater) que nós da Pangéia fizemos em 2008, mas acredito que foi realmente na ocupação que isso começou a brotar. Tinhamos um espaço. E vontade de criar com ele. 

Por exemplo, como processo da peça “Maratona” fizemos Maratonas para o público dançar. O evento era permeado por jogos de eliminação, numeros musicais propostos por nós, e pelo publico, que podia se inscrever para apresentar algo. Nós atores ensaiavamos, faziamos cenas durante e dávamos o nosso melhor no rebolado.  Nunca nenhum de nós ganhou as Maratonas que promovemos. Isso pra mim é o aprendizado mais gratificante. Significa que o que despertávamos nas pessoas era muito mais grandioso do que algo que poderíamos fazer.

Esse tipo de interação humana que fomos descobrindo me incentivou a organizar uma oficina. É renovador promover encontros que são intensos e prazerosos simplesmente porque as pessoas perdem o medo de interagir entre si. 

No dia 28/02 começou a oficina: Descubra seu estar bem. Nela, proponho dinâmicas para fortalecer a conexão corpo-emoçāo através de relaxamento, respiração e autoconhecimento. Reaprender a mobilizar todo o corpo para se expressar gera bem estar e plenitude. 



Tenho muito a agradecer meus colegas de Pangéia. Nesses oito anos aprendi imensamente com os nossos trabalhos ao mesmo tempo que tive apoio às minhas pesquisas e carinho para minha inseguranças. 




No primeiro dia, a sala estava cheia, os participantes chegaram com serenidade e abertura. É bonito ver que a interação entre eles é bem diferente na entrada e na saida. Houve um momento bem bonito durante uma dança: eles se tornaram cumplices silenciosos de uma aventura alegre. Se eles tiverem partilhado coragem, mesmo que por um momento,  pra mim já valeu a pena. 





Este foi o dia dedicado a conexão corpo-quereres. O próximo focará na respiração fluida, o terceiro postura e o quarto na coragem. É com alegria que promovo esses encontros. Meu objetivo é despertar o interesse em descobrir o corpo como meio de mergulhar na vida.





Diana Behrens é formada em Artes Cênicas (CAL) , Cinema (PUC) e Balé clássico. Tem continua experiência em dança, técnicas teatrais, terapias corporais como bioenergética e meditações. Integrante da Pangeia cia.deteatro, Jardins Portáteis e Teatro Catapulta.









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